Ela é menina sem nome, sorriso sem sentido, olhar cabisbaixo, andar contido, lágrima incontrolável, vestido preto rodado, corpo de criança, dor de gente grande, saudade inexplicável, emoção ilimitada, amor intocável. Sentimento incontrolável. Quando a alma está cinza, nem o céu azul dá jeito. O peito dói, o olho arde, o passarinho até deixou de cantar. A vida não tem graça só por causa de um único sorriso, os dias não fazem sentido por causa de um abraço que antes murcho se tornou inexistente, de um beijo que antes era de mentira, e agora fugiu junto com aquele casaco azul com listrinhas brancas. - Bom dia, menina dos sonhos loucos, da vida incomum, dos sentimentos misturados! - Alguém lhe gritava todos os dias. Antes ela ainda insistia em responder, agora nem se dava mais ao trabalho. Não gostava de ironias, desde sempre preferia o olho no olho, o “diz que diz logo”, o “diga logo ou cale-se para sempre”. Preferia a mentira à verdade mascarada, sentia falta de poucos que foram realmente importantes e se satisfazia tomando café sempre no mesmo horário. De longe parecia triste, e no fim, até era. Mas sabia sorrir quando o causador de sua dor aparecia, se mostrava forte na frente da mãe e desabava de carência no colo da melhor amiga. Fazia o tipo intelectual, sonhava muito e não corria atrás de muita coisa. Optava sempre - ou na maioria das vezes - por atitudes repentinas e alianças descompromissadas. Chorava quando pensava em desistir da vida, e vivia feliz por conseguir chegar no fim do dia. Mesmo que nada tivesse se alterado ou novidades tivessem acontecido. Sempre direta e um tanto arrogante, calada e suspeita. Dona de uma personalidade estranha, de gostos musicais enrolados e formada por paradoxos sentimentais. Parecia não se importar com sofrimentos ou rejeições, e enganava todos muito bem. Em um certo dia de uma primavera que mais parecia inverno – assim como eram os seus sentimentos, que pareciam quentes, mas na verdade estavam fervendo, numa comparação interessante entre uma estação mediana e o verão – as coisas dentro dela começaram a entrar em ebulição. Os sentimentos viraram de cabeça pra baixo e o coração começou a gritar, como que implorando por um abraço. Um olhar mudou tudo, desde a dor que sentia antes, até a decepção que existia dentro de si mesma. Agora era tudo em dobro: Os sentimentos mais agitados e mais dolorosos que ela um dia poderia experimentar. E então, antes que ela esperasse ou pudesse compreender, começou tudo de novo. Vieram os beijos falsos, abraços de mentira, sorriso fingido, sentimento inventado. E então, quando tudo se acabou, quando o conceito de amor se transformou e o coração ficou por mais uma vez quebrado, ela percebeu que o problema não estava dentro de si – e que tudo aquilo nem sequer era um problema. O problema não era o amor, mas justamente a falta dele por uma das partes – ela amava de mais e eles de menos, e esse tal sentimento não devia ser assim. Notou que não adiantava forçar as coisas: Elas deveriam sempre acontecer naturalmente. E esse não era o caso.
Mateus Freitas e Letícia Loureiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário